"No momento eu só tenho um grande problema – é saudade de você. O resto é bobagem."
(Maury Gurgel)
Todos os dias pessoas morrem, palavras ecoam, e artistas saem de casa. Neste dia não cumprimos nenhum quesito destes, não morremos, não ecoamos nenhuma palavra, deixamo-as instauradas em nosso corpo, também não saímos de casa, mas o momento se aproxima... Por enquanto estamos com um grande problema: vontade de não largar o experimento dos Anjos Harmoniosos, já ultrapassamos um mês e a investigação destes personagens tem nos rendido imagens, sensações e buscas novas incontáveis. O que nos resta? Deixar os anjos nos levar... Os outros personagens desta tragédia que nos aguardem, e por falar em tragédia...
Muito tenho ouvido expressões que desmerecem as formas de fazer uma tragédia, comparando com a forma de fazer uma comédia. "Fazer comédia é mais difícil que tragédia", mas será que as coisas são assim mesmo(!?). Se por um lado busca-se realizar uma comédia fora de padrões como o Stand Up e sem o esteriótipo do transexualismo também busca-se uma tragédia fora de moldes antigos e verborrágicos. Toda obra de arte bem feita requer um trabalho e um cuidado específico, não dá para julgar o grão de feijão pelo saco de farinha. Tragédias são muitas e o trabalho corporal do ator tanto na comédia como na tragédia exige e muito sua atenção e suor, desde que o mesmo queira realizar um trabalho verdadeiro.
Nesta semana ousamos um pouco mais. O texto ultrapassa os limites do bom senso com as palavras, repetimos enquanto a vontade nos permitir. Pronunciamos as mesma de forma religiosa e profana, de forma aconchegante ou nostálgica, e a palavra faz existir o que em nosso corpo deixou de reverberar: a liberdade de falar, mesmo que seja sem sentido.
Desta vez voamos com os pés no chão, e compomos possíveis formas de encenação, dentro de tudo o que já havíamos experimentado.
Vamos Pensar Um Pouco: Esboços de um possível espetáculo.
(Clecí Nascimento)
De "Só uma vertigem" até "menino e menina": Cena em blackout, gritos desesperados e som de ópera instrumental. Em seguida "luz fraca" a mesma sonoplastia e todos deitados, em um circulo inclinando a coluna, uma pessoa dentro do círculo brincando corporalmente com elásticos.
(Rayane Wise)
Partitura do nasci, um tecido preto ou branco (sombra), o texto -> são anjos invisíveis que observam o nascimento. O feto (partitura) e os anjos invisíveis são um só, quando um nasce o outro sai de cena -> do "Eis-nos quase aqui" até "Queda de anjo é direção". "Nosso verdadeiro começo" -> os anjos são nascidos. "Incendiada pela terrível harmonia" é os anjos nascendo, em preparação. Volta para os anjos invisíveis no "mesmo aquém" até "escurece o horizonte".
(Bruno Leon)
No próximo encontro trabalharemos com cheiros. Ainda dentro da investigação dos personagens denominados: Anjos Harmoniosos, do texto A Pecadora Queimada e os Anjos Harmoniosos. Em breve investigaremos outros personagens: O Povo; Os Guardas; O Marido e o Amante...
No momento só temos encontrado problemas, nenhuma solução simples: que bom! Isso é o que nos faz investigar incessantemente.
"Mesmo aquém a orla do mundo nós mal entendemos, quanto mais vós, os
famintos, e vós, os saciados. Que vos baste a sentença geradora: o que tem de
ser feito será feito, este é o único princípio perfeito".
(Clarice Lispector)
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