Na Rua, Na Chuva, Na Vila dos Pescadores

"Jogue tuas mãos para o céu

E agradeça se acaso tiver

Alguém que você gostaria que
Estivesse sempre com você
Na rua, na chuva, na fazenda
Ou numa casinha de sapê"
(Hyldon)

foto: Washington D'Anunciação

     Hoje nos encontramos na Vila dos pescadores do Jaraguá (bairro de Maceió-AL). O estímulo  para realizar o encontro em tal local, veio através de convite do estudante de Artes Cênicas da UFAL, Udson Pinheiro. No início tudo pareceu um pouco confuso, afinal o que faríamos ali? E o que é a Vila dos Pescadores do Jaraguá? 
    
      A Prefeitura de Maceió requereu a retirada dos moradores de Jaraguá para concluir um projeto de reurbanização. (fonte: Ministério Público Federal). A Amajar defende a permanência de 66 famílias naquela localidade, com o argumento que são moradores do lugar há décadas, vivem da pesca, com direito garantido em razão da tradicionalidade (fonte: Alagoas na net). 

foto: Washington D'Anunciação

     A comunidade pesqueira existe há mais de meio século, sendo portanto rica em cultura e memória e possuindo uma história que se confunde em diversos aspectos com a história da capital alagoana, e hoje se encontra ameaçada pelo próprio poder público que deveria zelar pela sua preservação. Está claro que a destruição da Vila de Pescadores do bairro de Jaraguá representaria uma derrota sem tamanho para os trabalhadores e as trabalhadoras do estado de Alagoas e uma perda irreparável para a nossa cultura e a nossa memória. (fonte: PSTU Alagoas)
      O desembargador Manoel Oliveira Erhardt CONCEDEU o efeito suspensivo em favor da Vila dos Pescadores de Jaraguá, o que retira da Prefeitura de Maceió o direito de **expulsar a comunidade no dia 10 de setembro**, como estava programado após negação do pedido pelo Judiciário alagoano. A decisão do magistrado foi fundamentada, sobretudo, no fato de que o despejo das famílias seria um ato com efeito irreversível, o que impossibilitaria o (justo) direito a aguardarmos o julgamento e, inclusive, se necessário, de buscarmos uma terceira instância. (fonte: Abrace a Vila)

foto: Washington D'Anunciação

     E foi neste espaço que realizamos nosso encontro. Entendendo que, não estamos realizando um protesto, mas sim um se fazer presente. Investigamos este espaço tão importante para a comunidade maceioense e que passa por um momento histórico. Mas, nos envolvemos e nos restringimos a usar apenas o que aquele espaço nos causava, sem entrevistas e contatos diretos e forçosos com os moradores. Pedindo algumas permissões para a utilização de tal espaço, nos fizemos presente e descobrimos o que ali de mais elementar poderíamos extrair para construir uma obra artística dentro dessa vivência corporal.
foto: Washington D'Anunciação
     Diferente, do outro espaço que usamos no ultimo encontro, ainda no bairro do Jaraguá, tivemos uma aceitação maior, dos habitantes daquele local. De longe víamos uma ou outra pessoa olhando o nosso trabalho, sem interferências e com sorrisos escondidos. Nos sentimos acolhidos apesar de estarmos como "invasores". 
       Entendemos que é nestes espaços que temos que nos fazer presente, a formação de "público/curiosos" não perpassa apanas nas zonas midiáticas que atingem a uma classe 'elitizada". Que público queremos entrar em contato? O que paga nosso ingresso e que volta para suas casas? Ou o que nos aceita em suas casas e contribuem com o nosso processo? Os dois? Ou tudo é uma coisa só? Pensemos e não respondemos... 

foto: Washington D'Anunciação

     Hoje o nosso registro fotográfico foi realizado pelo músico, fotografo e professor da Universidade Federal de Alagoas, Whasingtom D'Anunciação. É muito importante para o nosso processo essas contribuições de artistas que recortam a realidade de nosso processo e nos mostram um outro mundo. Uma obra fotomágica e que nos faz agradecer imensamente o nosso fotografo de hoje, admiremos um pouco essa obra, criada á partir da construção de outra obra. Do teatro para a fotografia: 


foto: Washington D'Anunciação

foto: Washington D'Anunciação

foto: Washington D'Anunciação

foto: Washington D'Anunciação

foto: Washington D'Anunciação

     Nosso encontro também foi acompanhado pelo ator, músico e estudante de Artes Cênicas, Henrique Nagope. Que realizará um trabalho acadêmico sobre o nosso processo para uma disciplina e que em breve será mais detalhado aqui. 
foto: Washington D'Anunciação
      O mesmo também participou, no final, de alguns exercícios do nosso grupo. Podendo nos investigar não apenas com o olhar, mas com o corpo inteiro.


Há o texto. Há o espaço. Há o corpo. Há muito mais, o corpo. Este busca mediar a poética da dramaturgia, que já cria e cresce suas raízes em cada um, e o material poético que há na rua, no vento, na chuva.
"É preciso dançar".
(Henrique Nagope)









O instante,
São só fotos, fotografar desse jeito me fascina, o instante como ele é, o instante que pode contribuir com o projeto. Pela primeira vez isso é só o começo, espero melhorar.
(Whashingtom D'Anunciação)

foto: Washington D'Anunciação

Dançar na rua deveria ser um dos mandamentos de todas as bíblias.
Dançar despreocupadamente.
Uma tarefa para todos: dançar! dançar! dançar! 
Nem que seja um minuto ao dia.
Na fila do banco, no ponto do ônibus, na fila do restaurante, ao acordar ou antes de dormir.
A dança deveria ser um órgão do corpo humano.
Dançar despreocupadamente é a melhor coisa a se fazer.
(Anderson Vieira)



foto: Washington D'Anunciação
O encontro do dia 06 de setembro para mim foi mágico e singular. Tudo tão leve e tão bom! A sintonia do grupo foi para mim o ponto mais importante do encontro. Os estímulos exteriores só complementaram o que já vinha sendo construído anteriormente, o cenário da vila dos Pescadores foi uma pitada à mais de experiência no nosso trabalho, me ajudou a ver o que estamos desenvolvendo sob uma nova perspectiva! Não queria sair mais daquele lugar e nem da companhia do grupo! A dança ao ar livre me levou a lugares longínquos e me fez sentir fora do meu corpo e ali naquele momento pude externar a menina que está dentro de mim que a todo momento quer sair, esse encontro me possibilitou isso mostrar esse lado menina. Quero repetir mais e mais vezes! (Cleci Nascimento) 


Muitos ruídos, movimentos cotidianos, pequenas pedras sob os pés, areia, um vento renovador e os corpos construíam a obra, vindoura. Todo movimento como reação da vida que passava... Não éramos mais nós mesmos, mas corpos moldados por ruídos, movimentos cotidianos, areia, pedras e o mais surpreendente foi estar com os olhos fechados e a sensação do vento sobre a pele: transportava para qualquer lugar que a mente pudesse reproduzir, nós como desbravadores de luares desconhecidos.
(Jailson Natividade)



Depois de uma longa e bela caminhada na beira da praia, estranhei um pouco o lugar, por o chão de barro e um cheiro muito forte de peixe. Ao conhecermos o lugar senti um misto de medo e liberdade. Medo: de cortar meus pés nos cacos de vidro que lá estavam. Liberdade: um lugar aberto perto do mar dá sempre uma sensação de estar-se livre. Percebi uma certa curiosidade nos olhos das pessoas. Tinha uma menina que estava bem atenta as nossas brincadeiras, acho que ela estava querendo entender o que acontecera ali. Deu vontade de chamá-la para participar da brincadeira, gostaria muito de ver sua reação. E por fim: quando fomos para a areia da praia, foi como se eu estivesse nadando em um mar, que ao invés de água fosse feito de vento. Fechar os olhos sentir o vento, o vento forte em meu corpo, era como se eu tivesse azas e estivesse voando, como dizem por aí: dei azas a minha imaginação. Aquele vento no rosto, aquele sol e a sensação de liberdade, me fizeram lembrar de uma. Música do 14 bis que é uma das minhas prediletas, chamada (SIGA O SOL). E hoje apesar das dores nos pés, estou muito feliz, e irei dormir ouvindo SIGA O SOL, como uma forma de incentivo para mais um ensaio!
Até sábado, e iremos por aí a seguir o SOL.
(Mare Gomes)



  
  Próximo sábado estaremos em outro lugar urbano de Maceió-AL. Pode ser na rua, na chuva ou em uma vila... Abraços e até breve!

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