De: Para: (Carta Aberta de um Diretor)

De: Anderson Vieira
Para: Clarice Lispector


Clarice,
Sonhei contigo esses dias, eu estava em sua biblioteca - Biblioteca Clarice Lispector. A atendente me falava que você estava ali e que estava me observando, mesmo sem te ver eu senti a tua presença. Era uma coisa de outro mundo, coisa de momento, flash vagabundo, mas que me fizera muito bem. Ainda no sonho perguntei a especie de atendente/cartomante se você sabia que eu existia, ela disse que sim. E ai? ai eu acordei. 
Clarice, as vezes eu sinto que precisava conversar com você um pouco mais, imaginar que você sabe de minha existência, é pesada a falta de referência em que me deixaste, mas eu sigo o espirito de criação divina, as vezes ele falha, as vezes ele conversa com o que pensaste, e as vezes eu não sei para onde ele vai. 
Eu não sei para onde vou, só sei que vou. Estou realizando a montagem de um espetáculo inacabado, seguindo a sua frase no livro A Hora da Estrela, "falta resposta, resposta essa que eu espero que alguém no mundo me dê".
As pessoas que estão comigo trazem toda uma força, é preciso apenas saber como encaminhá-la. Não quero exaltar meu nome, nem tão pouco diminuir o teu, quero apenas mostrar uma conversa minha contigo, para um público alagoano, conterrâneos da nossa querida Macabéia.  
Complexidades são muitas, e o dinheiro é o que mais falta, também não gostaria que ele sobrasse. A pobreza é tão linda, não é? Poética. 
Aos meus atores um muito obrigado, ao público alagoano paciência, a própria Clarice minhas desculpas, e a mim mesmo obediência. 
Não se trata mais de uma busca por uma bela obra, mas por uma tradução de pensamento de atores, diretores, fotógrafos e público.
O que fazer com uma obra quem não sabe o que fazer de si mesmo? Entregar-se ao fluxo do perder-se e nessa falta de sentido encontrar um sentido.
É preciso dançar, pois "até nascer é um movimento", não é verdade?
Clarice, é verdade que a obra transcende o pensamento do artista? Porque as vezes eu acho que a minha tem pensado demais, falado em demasia, e eu sou muito pequeno, mas ela brota de mim de uma forma tão grande, tão imensa e eu não sei explicar.
Abaixo estão as fotos do nosso projeto.
Espero não que goste, mas que sinta. Eu sinto-o. Você sente?














Muito obrigado pelo enorme presente, que é esse texto repleto de material para dançarmos...A Pecadora Queimada e os Anjos Harmoniosos.

Abraço do seu leitor, que se propôs a ser diretor teatral inspirado em uma obra tua, pela simples necessidade de transmitir o que ela me causou.
19 de outubro de 2014.

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