Nada Acontece Mesmo Por Aqui?

Ontem foi o dia do Chá da Tarde, realizado todos os anos pela Cia, do Chapéu. Fui convidado para estar na mesa de debate, mas infelizmente não pude estar, mesmo assim me sentindo honrado pelo convite escrevi uma carta sobre minhas impressões sobre o tema do evento. A mesma foi lida no incio do evento, agradeço pelo convite e abaixo segue a carta para os artistas alagoanos.




 De: Anderson Vieira
Para: Os que fazem teatro em Maceió.

                Infelizmente não posso estar com vocês nesta noite, mas desde já agradeço o convite e justifico minha ausência pela quantidade de quilômetros de distância entre “eu e vocês”.


 Nada Acontece Mesmo Por Aqui? Acredito que essa pergunta não surge dos grandes e antigos grupos alagoanos, na maioria das vezes, mas sim daqueles que estão cansados de irem em reuniões e eventos, ouvirem que nada se produz quando existe uma quantidade muito grande de novos grupos oriundos da universidade que estão ali produzindo, mas são identificados somente como estudantes acadêmicos de teatro. Não. Ali existe uma capacidade de firmação como grupo e existe muita sensibilidade artística. Falta reconhecimento da comunidade alagoana? Não. Falta humildade da própria classe artística que se nega voltar às origens.


Não conheço nenhum grupo alagoano que seja composto sem nenhum estudante da Universidade Federal de Alagoas, mesmo que ainda não tenha entregue o Trabalho de Conclusão de Curso. O que eu percebo, não trata-se apenas de uma suposição mas de uma análise cruel contra minha própria classe, é que temos grandes grupos realizando espetáculos teatrais e poucos assistindo-se, fecham-se em suas cavernas e surgem no dia de sua temporada. Lamento termos celebres nomes no teatro alagoano, atrizes e atores que se intitulam como independentes, mas que não descem do pedestal para estimular aqueles que querem levantar a produção alagoana partindo da Universidade, mas que, não possuem bons exemplos de humildade. 



Não vejo uma classe que faz teatro, mas sim uma classe que só faz a história do próprio grupo. É como se fizéssemos ATA, Cia. Do Chapéu, Joana Gajurú, Claricena, Clowns de Quinta, Nega Fulô, Cia. Da Meia Noite, Cena Livre, Guerreiros Produção, fazemos o grupo w, o grupo x, o grupo y e o z, mas não fizéssemos teatro! Cito aqui nomes de grupos para exemplificar a ação de pensarmos em grupos independentes e não em teatro com público. Esquecemos que existe uma relação entre público e espetáculo? Esquecemos que se não assistimos o trabalho dos nossos colegas entramos no campo de outras áreas e acredito que ainda queremos fazer teatro. A captação de público não se dá de fora para dentro, mas de dentro para fora, quando nós dermos valor ao que estamos produzindo e entendermos que assistir teatro é preciso antes de fazê-lo, os de fora também vão compreender isso, assim teremos estímulos das entidades eleitas nas urnas e a presença dos grandes merecedores de espetáculos: o cidadão alagoano.

 Caímos então em um declínio onde os jovens universitários por falta de apoio e referências de humildade de outros grupos querem produzir workshops sem formação, espetáculos para satisfazer egos e pensam em fazer grupos, e onde fica o teatro?         Peço encarecidamente a esta classe que se reconheça e que se assista, que segure nas mãos das novas produções, muita coisa acontece por aqui, a gente só não quer retornar às origens.
  

  Aqui ficam as palavras de um falho artista que procura mãos para segurar.
Um abraço e muita humildade para todos!

                21 de Janeiro de 2016, São Paulo-SP. 


Comentários