Compromisso Com o Lucro

Foto: Nyrium

    Não é tão fácil vencer o papel em branco uma mente em branco um pôr do sol branco um mundo branco. É uma sensação de vaziez, lentidão, a falta de cor, uma preparação para mergulhar na loucura, está prestes a ser corrompida por respostas do que se pergunta sobre a existência. Algo não está funcionando direito. Há espaços e lacunas no intervalo de cada ação: distâncias? memórias de um tempo que foi vivido e que é vivido no presente porque o futuro é o agora?

Foto: Nyrium
       Um coice de um cavalo dói menos que um punhal de palavras encravado - e que logo depois é girado no mesmo canto da ferida sendo tirado ao sangue - no peito. São muitas palavras em desordem. O cotidiano no cio, automatismo revelado (ou não): a Granja dos corações amargurados recebe pressão de todos os cantos das paredes, do mofo dos telhados saem 30 agentes, da janela da granja só se vê abismos e sentinelas porque muitos guardam o segredo do ovo ou disfarçam e fingem que vivem; só se sabe que o ovo está rodeado pelo caos de palavras, respostas indefinidas, cruas, vilãs; preces em conflito pairam no que resta de respiração, uma espécie de respiração caótica.

Foto: Nyrium
     Cada galinha tem seu ritmo de encontrar a morte, ela não sabe que vai morrer, mas vive por encontrar o seu ritmo. A morte é tão somente o tempo que as galinhas passam para encontrar o ritmo da sobrevivência. As penas no espaço oco limitam a alimentação dos granjeiros, um passo ao outro e a ilusão se instala, movimentos? extensão no corpo de corações se contorcendo, alguém ou algo amassando as pálpebras e comendo o resto de olho interior que a agente 002 tem, ela não aguenta mais. seus esôfagos estão entupidos de buscas e apelos; algumas relações foram cortadas, outras foram reconciliadas pelo fator cegueira, e ainda têm aqueles que insistem em amar a superfície a casca do ovo sem sentir o gozo da gema da intensa gema.

Foto: Nyrium
     Eles, os agentes, cansaram de contar as pegadas do atalho para vê se ainda voltam pra si. É um contínuo recomeço do caminhar, andam em círculos e ciclos de agonia e dor. Os milhos jogados para as galinhas enfeitam a terra, não produz nada. O que nascem e renascem, ininterruptamente, são os questionamentos que restam de quem vive condicionado ao seu trabalho. Porém, o comodismo disfarça o ovo.

Foto: Nyrium
     A granja São Geraldo existe por ela mesma, é um organismo vivo convicto de que o sono vive, de que os olhos estão fechados para o tudo que se tem dentro, dentro da casca. De longe dá para ouvir o crack crack dos cascos dos sentidos, um ovo podre e fiel vale mais que o ovo limpo e cruel. Neste lugar, sanidade não é sobrenome de ninguém. A granja dos corações amargurados exige compromisso com o lucro com o que resta do ovo com a negação do amor-nada com o insulto a si mesmo.

CLARICENA - FESTAL 2017
Texto sobre a volta da Granja dos corações amargurados
Por Jamerson Soares.

Foto: Nyrium

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