SOBREVIVÊNCIA EM ISOLAMENTO SOCIAL

Grupo Claricena investiga morte e sobrevivência em isolamento social em websérie a partir das obras de Clarice Lispector.

_‘Sobreviver é a salvação pois parece que viver não existe’ é um projeto do grupo realizado na internet em homenagem ao aniversário da escritora, que completaria cem anos em 2020 caso estivesse viva. Episódios retratam fluxos de pensamentos de personagens buscando o sentido de sobreviver na pandemia por meio da solitude. Obras como ‘O Lustre’ e ‘Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres’ são algumas inspirações para a websérie_As fotografias são de Gessyza Geyza e Nereu Ventura.

Um corpo estático observa a inquietante e efervescente caminhada humana. A banda passa do lado de fora com seus cantares de proteção contra um inimigo invisível. Vários inimigos visíveis representantes do poder tentando ganhar pelo cansaço: como diria a poeta “eles querem nos vencer pelo cansaço”. O corpo continua parado, mas borbulhando ensimesmado ciente de que mesmo que o corpo pare em meio ao abismo ele sempre vai estar se preparando para a guerra. O corpo morre, nasce, renasce, se transforma, morre novamente nascendo.

Este mesmo corpo habita o próximo episódio da websérie “Sobreviver é a salvação pois parece que viver não existe”, do grupo de teatro Claricena, que realiza experimentos corporais e sensitivos no palco por meio dos textos e pensamentos da escritora Clarice Lispector.

Com a participação da atriz pernambucana Gessyca Geyza, o curta-metragem, intitulado “Para Nascer”, retrata uma mulher sem nome e sem status enfrentando um período de pausa e compreensão de si mesma. A partir de seus pensamentos e emoções, a narrativa impulsiona o corpo dessa mulher a investigar na solitude a força necessária para fazer nascer a vida.

Todos os episódios da websérie tiveram como base as obras de Clarice e a potência que há na solidão como linha de investigação, desde A Hora da Estrela, Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, a Um Sopro de Vida. O projeto tem como objetivo realizar um tributo ao aniversário de Clarice Lispector, que completaria cem anos em 2020 caso ainda estivesse viva. As tramas fazem relação ao momento atual em que vivemos: os efeitos do isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19 e a conjuntura sociopolítica do Brasil. A transmissão da websérie acontece todo dia 10 de cada mês, sempre às 19h, no IGTV do Instagram @grupoclaricena. 

Para a composição do texto do episódio, foram usados fragmentos da obra O Lustre (1946), de Lispector. No livro é possível perceber a interiorização dos personagens, os sentimentos ruins, ódios, amores, culpas, euforias, epifanias, tristezas, medos, sentimentos íntimos que falam através da própria alma.

Segundo a atriz Gessyca Geyza, o processo de construção das imagens girou em torno das sensações que o corpo dela sentia no momento e de forma muito íntima. Ela conta que quando estava parada, percebia com maior profundidade que tudo estava se movendo, pulsando, nascendo, uma espécie de polaridade. O artista Nereu Ventura ficou responsável pela fotografia do filme, que será transmitido na terça-feira (10).

“No início, todas as imagens que eu visualizava como próximas às sensações que estavam habitando meu corpo no momento, me apareciam de forma muito íntima. Muito de perto. Respiração, pele, micromovimentos. Acredito que o que mais ganhou espaço no EP, foi realmente a necessidade de respirar. De silenciar. De ultrapassar os estados de paralisia”, disse a atriz.

*Produção intimista e epifânica*

As produções da websérie são realizadas nas casas dos próprios atores, com maquinário e ferramentas que estiverem disponíveis no local. Essa composição traz um tom minimalista e abstracionista aos episódios, segundo o diretor e fundador do grupo Anderson Vieira. Ao comentar sobre o próximo episódio, Vieira diz que a composição das cenas segue o fluxo da respiração e espaço de meditação em meio a rotina cotidiana do ser em isolamento social.

“Neste episódio, o minimalismo está mais presente na estética e fotografias. As abstrações são reveladas em uma composição que segue o fluxo da respiração e espaço de meditação em meio a rotina cotidiana do ser em isolamento social. Construímos uma paisagem audiovisual que seja capaz de exteriorizar de forma simples e objetiva a potência da mente em criar impulsos necessários para fazer nascer a vontade de prosseguir sobrevivendo, apesar de tudo”, concluiu.

Por causa da pandemia da Covid e das medidas restritivas que impedem a aglomeração de pessoas nos teatros, o grupo Claricena decidiu pensar em fazer um teatro mais intimista que seria transmitido pela internet.

Desde 2013, o grupo Claricena vem desenvolvendo nos palcos do teatro laboratório cênicos em Alagoas que testam os limites do corpo e pensamentos permeados pelas obras da escritora Clarice Lispector. O grupo realiza produções autorais, e atualmente tem núcleos em Pernambuco e em São Paulo. No currículo estão as peças “Espectro: A pecadora queimada e os anjos harmoniosos”, que é a única peça de teatro escrita por Lispector; a “Granja dos Corações Amargurados”; o “Adeus, Clarice!”, a websérie “SOBREVIVER”, e a peça realizada no WhatsApp, “Tenho Fome”.


*SERVIÇO*

Grupo Claricena

“Sobreviver é a salvação pois parece que viver não existe”

Episódio 08 - Para Nascer

Data: 10 de agosto de 2021

Horário: 19h

Local: IGVT do Instagram @grupoclaricena, página do Facebook e no canal do YouTube

Ingressos: Exibição gratuita, sem arrecadação financeira



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