Tudo que é vivo morre

Estamos prontos para nossa sentença, estamos cumprindo aquilo que já prevíamos desde o nosso nascimento. As angústias vão sessando, o medo se esvaindo e o vazio toma o lugar de corpos que não sabem nem por onde começar. Parece que a estreia é uma morte. A morte não é dor, é vazio. E o nosso vazio está se aproximando. Depois disso, poderemos realizar outras apresentações, mas a vida é feita de pequenas mortes, e como nos disse Clarice Lispector: É tudo tão incerto. Esse texto possui erros ortográficos e como a morte deve permanecer assim, sem volta, pois foi escrito em um fluxo de inspiração.

Foto: Nyrium

Conforme o prometido, estamos aqui com o registro do nosso outro bruxo, o Nyrium. Que nos acompanhou nesses últimos momentos corridos, calorosos, abafados e tão inexplicável, que só quem já sentiu a morte que é os dias antes da estreia pode entender o que estou escrevendo aqui. Se é que se entende a morte, porque a morte é vazio e o vazio é o nada.

Foto: Nyrium

Neste momento estamos flutuando por vários lugares, e o nosso público nem imagina as nossas expectativas, problemas, dificuldades e ansiedade. A insônia que já passa a ser rotina está próxima de sessar. Mas e se esse espetáculo for como um tiro? Ele vai morrer? Acho que não, porque as cicatrizes vão ficar nos atores e no público. Estamos convidando vocês para um tiroteio, lancem suas armas contra nós. É verdade queremos ficar marcados.

Foto: Nyrium

Estamos vos chamando para enlouquecer conosco, e não é um favor, estamos vos convidando para assistir um espetáculo novo. Em um lugar onde todos sabem que tudo que é vivo morre. Porque as tempestades sempre vem, a gente só não sabe quando. Mas estamos adiando ela ao máximo.

Foto: Nyrium

Sabe por que essa postagem tem um ar tão tenso? Porque isso reflete todas as nossas cabeças que pensam que tanta coisa pode dar errado. É verdade, temos sonhado com a perfeição, e ela é um pecado. Mas é que se a gente não sonha com o perfeito o diabo carrega nossas energias e a vontade de entrar nesse vazio que é estrear um espetáculo acaba.

Foto: Nyrium

Não pensem que tudo são flores. Não pensem que está tudo lindo. E será mais um favor. Pois queremos você inteiramente novo, com a alma leve e já formada, para mergulhar em uma peça teatral que apresenta um enredo simples, que encantará os de alma leve e perturbará os olhos exigentes. É que a nossa perfeição tão sonhada está na representação de sonhos, e finalizar o sonho de ser um grupo alagoano de teatro se concretiza neste espetáculo. Obrigado por ler este texto até aqui. Esperamos você nessa jangada.

Foto: Nyrium

Muitos de nós, estamos com sono nesse momento, e o nosso público está dormindo, Assistirá nosso espetáculo e perderá o seu sono, e nós? Nós iremos dormir, porque estaremos cansados. Mas o público não irá dormir? Não, porque ele terá medo de piscar os olhos e ver, que tudo acaba, que tudo morre. O que levaremos para cena se transferirá para o público que, será atormentado pelo peso das vidas que tivemos que criar para representar nossas angustias e medos. Porque toda a alegria deste espetáculo é disfarçada.

Foto: Nyrium

Dias cinco e seis de agosto de dois mil e dezesseis estaremos tirando o peso que a saudade dessa montagem nos deixou. No teatro de Arena Sérgio Cardoso. Mais informações: Olhe para a primeira flor que encontrar, ela te trará um olhar para o novo.

Foto: Nyrium

Quando falamos em vida aqui, não é a individual, mas a do lugar que tanto amamos ou precisamos, ou a vida dos laços que criamos com as pessoas do local que moramos, a vida também pode ser criada por humanos, não esperem somente por Deus. Traremos neste espetáculo o indicio de que a saudade e a despedida é o fim de várias vidas sem morte, mesmo sabendo que tudo que é vivo morre, e tentando disfarçar isso.

Seguem as fotos do Nyrium, que também está vivendo para um dia morrer, assim como esse espetáculo, assim como você, assim como tudo que é vivo. Ele também percebeu que existe um fim para a vida.

Foto: Nyrium

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