G.A.Y.

Ainda sobre descobertas, trazemos-te um texto de Jamerson Soares sobre “sensação” e um convite: No dia 20 de setembro estaremos no Teatro de Arena Sérgio Cardoso (Anexo ao Deodoro), realizando um ensaio aberto do nosso espetáculo “A Descoberta de Um”. No fim deste ensaio, teremos uma conversa sobre sexualidade e gênero, com a presença de Milka Freitas, consultora e educadora sexual, e João Anyways, membro do Coletivo Tamanca.


                                      Em breve, tradução em inglês no fim da postagem.
(Soon English translation at the end of the post).

 Foto: Nyrium

"Guardar numa caixinha já bem surrada um amontoado de cartas já desgastadas pelo tempo: a caixinha é minha vida, as cartas são os meus segredos, os meus sentimentos, conceitos, dúvidas e anseios. Mas, ela está lacrada, fechada, limitada, pressionada e também muito inquieta. Aguentou tanto, mais tanto tempo que parecia uma eternidade; passou o infinito de limitações que me desgastavam o corpo, que traçavam.

                                                                                         Foto: Nyrium

          Era verdade o que eu sentia, mas parecia mentira. Sabe por quê? Porque eu deixava que as limitações dos outros influenciassem no meu comportamento, eram ações que me deixavam superficial, eu deixava que os meus planetas se alinhassem à planetas distantes. Ora, mas eu pensava: 'são todos mentirosos aqueles que não conspiram a favor do meu universo'. Além de ser uma linha retilínea e padronizada, eu, me negava, me igualava aos pensamentos dessa sociedade tão igual, logo, eu era o mentiroso dessa história.

                                                                                                        Foto: Nyrium

           Ser isso e ser aquilo, estar ali e estar aqui a todo momento, mesmo não estando, cantar outras canções que não condiziam com a minha melodia. Eu estava indo contra o meu próprio ritmo ou o que seja. Era o princípio da diluição de mim, eu estava me diminuindo a ponto de deixar que me enxergassem como um portador de uma visão incomum, diferente, esquisita. Mas eu tinha uma outra visão. Cegos são aqueles que jogam nos olhos a prisão de si. Eu não quero ser isso ou ser aquilo, eu quero ser! Sabe aquele arco ­íris calmo que se expõe depois de uma dura tempestade? Eu queria ser esse arco­ íris. Eu era, mas, na verdade, eu pensava ser a tempestade. 


                                                                                                   Foto: Nyrium


          
           'Eu quero ser a flor que se abre na primavera', dizia o considerado louco por ele mesmo e pelo mundo que o circundava. Era a minha existência querendo se mostrar, arreganhar-se com toda a ousadia terrena, e, de alguma forma, transpassar minha zona de conforto. Porém, a minha caixinha sempre se conformava com o ambiente sujo em que ela se encontrava. Sentir demais é para poucos e eu sinto o mundo. Não era o mundo onde eu habitava, era um mundo onde eu me habitava; mais para perto de mim, dentro, profundo e insano. Sanar a dor dançando nesse novo chão era ganho, só que ninguém sabia. O medo é o absoluto escuro dos nossos dias. Eu sou o medo em pessoa e tento todas as horas me recriar­. Ao invés de aceitar o que eu realmente era, eu imitava o que se chamava padrão. A imposição daquilo que nos rodeia também é o que nos limita a ser livres. Como assim se corrigir mesmo não sendo o erro? Eu não era um erro, mas era onde eu me encontrava.



                                                                                                    Foto: Nyrium

                Os trejeitos femininos das minhas ações eram um incômodo para mim, como também para aqueles que me chamavam de filho, neto e sobrinho. Um dia vi um batom na cabeceira da minha mãe, pensava que seria elegante aceitar que aquele objeto fizesse parte da minha pele, mas como sempre estava sozinho, não tive a coragem de sair e desfilar pela rua. Será que a solidão é o pior castigo de quem se auto-oprime, comprime-se e que deixa ser comprimido? A minha caixinha aos poucos está se tornando uma caixinha de surpresas...

                                                                                                     Foto: Nyrium

                A cada ano que passa é um tormento no peito, uma ânsia de movimentar o barco neste oceano de incertezas, eu sei que um novo horizonte pode chegar, mas não, apenas o silêncio reina. Eu era um prisioneiro de mim mesmo, uma alegoria dentro de um ser contido. Neste presente, não sei se absorvo incessantemente todas as sensações da vida e deixo ainda preso aquilo que me angustia, ou se me explodo como fogos de artifício para que os céus escuros, que fazem parte de mim, possam ser iluminados. Apenas tenho a certeza de que existo e preciso ser o que a minha alma pede que eu seja. Todos precisam substituir todos os dias o ponto final por uma vírgula, o fim pelo começo, e o meio... a gente vai construindo."

    Foto: Nyrium

          Não esqueça: dia 20 de setembro temos um compromisso com você! A entrada para o evento estará no valor de 5R$ e será disponibilizada 2h antes. Até lá.


Texto: Jamerson Soares         
Interlocução: Anderson Vieira
Fotos: Nyrium                         
Revisão: Maiara Padilha         
                                                                                                 
       
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      Foto: Nyrium

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