Fechei os Olhos para o Brasil?

Não podemos nos manter em estado neutro o tempo inteiro e ainda afirmarmos que assim não temos um posicionamento politico, porque até a neutralidade exige muitos esforços e até mesmo uma posição politica. Temos um projeto, como a maioria dos nossos leitores conhece, que se diz democrático, mas são muitos esforços para tornarmos um projeto democrático, mas todos esses esforços são em buscar de uma linha de horizontalidade em escolhas e vontades artísticas. Mas onde ficam as nossas inspirações atuais para mantermos uma democracia? Se atualmente no nosso país, os esforços que levantam mais movimentos são contra uma democracia.


Acreditávamos em uma cobertura politica, que nos assegurava e nos protegia. Acreditávamos que o nosso estado que se dizia democrático, protegeria nós, artistas da falsa liberdade de expressão, que se voltariam contra os artistas deflagadores da manifestação popular. Mas o que estamos vendo? Um ovo com uma casca totalmente quebrada. 




E a partir deste instante exato nunca existiu um ovo. É absolutamente indispensável que eu seja uma ocupada e uma distraída. Sou indispensavelmente um dos que renegam. Faço parte da maçonaria dos que viram uma vez o ovo e o renegam como forma de protegê-lo. Somos os que se abstêm de destruir, e nisso se consomem. (Clarice Lispector)


E o que falaríamos para os que se sentem sem apoio? Seja em seu núcleo familiar ou em alguma instituição, e por isso, mantem os olhos fechados para o que vem acontecendo nas bancadas politicas, nas salas de aula e até mesmo nas conversas do ponto de ônibus. Não fechem os olhos, e estendam suas mãos. Busquem as revelações mais sinceras e sejam o mais humano possível, com os que foram torturados à anos atrás em uma ditadura militar e sejam solidários com os que desconhecem a triste realidade de uma intervenção militar. Vamos espalhar amor, com conhecimento. De olhos abertos.


Há casos de agentes que se suicidam: acham insuficientes as pouquíssimas instruções recebidas, e se sentem sem apoio. Houve o caso da agente que revelou publicamente ser agente porque lhe foi intolerável não ser compreendida, e ela não suportava mais não ter o respeito alheio: morreu. Nem precisou ser eliminada: ela própria se consumiu lentamente na revolta, sua revolta veio quando ela descobriu que as duas ou três instruções recebidas não incluíam nenhuma explicação. (Clarice Lispector)


Verdades não devem ser grosseiramente ditas. Porque muitas verdade são suicídios em relações de trabalho, em relações amorosas e em salas de ensaio. Pegamos o exemplo de um diretor, que busca milhares de formas para colaborar com a construção do personagem e das cenas de um espetáculo sem indicar ações definitivas e formas acabadas. Não obrigue o homem a comer peixe, semeie nele o prazer de pescar. 


Houve outro, também eliminado, porque achava que "a verdade deve ser corajosamente dita", e começou em primeiro lugar a procurá-la; dele se disse que morreu em nome da verdade, mas o fato é que ele estava apenas dificultando a verdade com sua inocência; sua aparente coragem era tolice, e era ingênuo o seu desejo de lealdade, ele não compreendera que ser leal não é coisa limpa, ser leal é ser desleal para com todo o resto. Esses casos extremos de morte não são por crueldade. É que há um trabalho, digamos cósmico, a ser feito, e os casos individuais infelizmente não podem ser levados em consideração. Para os que sucumbem e se tornam individuais é que existem as instituições, a caridade, a compreensão que não discrimina motivos, a nossa vida humana enfim. (Clarice Lispector)



O Projeto Claricena fecha os olhos para o Brasil. Mas não é receio do que vai acontecer ou simplesmente pelo "não querer ver". Estimularemos outros sentidos, pois o que nos tem sido mostrado pelo sentido da visão não tem nos satisfeito, e tem nos deixado confuso. Os meios de comunicação estão deteriorando a casca de todos os ovos, estamos buscando formas de deixar a gema intacta.



Fotos: Nyrium

Comentários